Guerra de classes e as eleições
Desde que a crise explodiu e se aprofundou no mundo capitalista, os grandes patrões declararam guerra aos trabalhadores, aos jovens e aos pequenos comerciantes. Vale tudo para manter e ampliar os lucros dos bilionários. No mundo todo, a ordem é destruir a Previdência e retirar direitos dos assalariados, privatizar os serviços públicos, ao passo que aos grandes grupos empresariais são concedidas anistias e reduções de impostos.
O resultado dessa guerra declarada é que nos últimos anos a riqueza das famílias mais ricas do planeta aumentou enormemente, ao passo que 1% da população hoje detém mais dinheiro e poder que todos os outros 99%. Ao povo sobrou o desemprego, a violência, a doença, a falta de educação, de moradia e a desesperança.
E é nesse cenário que chegamos a mais uma eleição “democrática”. Os banqueiros e grandes empresários precisam que continuemos acreditando no sistema manipulado por eles. Por isso, a cada quatro anos, o povo vota crente que pode fazer uma “mudança”. Poucos percebem o jogo de cartas marcadas: campanhas milionárias bancadas pelos poderosos, banqueiros ditando o Plano de Governo. Por isso os candidatos não tocam na raiz do problema. Não propõem cortar o pagamento de 50% do orçamento da nação para juros e amortização da dívida pública (mais de R$ 1 trilhão para os banqueiros e especuladores). Preferem nos distrair com propostas de pequenas economias caseiras que não tocam nem nos seus próprios privilégios. Já se perguntou como é possível um deputado, por exemplo, multiplicar seu patrimônio entre uma eleição e outra? Seus discursos querem nos fazer acreditar que o problema da nação é o nosso 13º salário, nossas férias, nossa aposentadoria. É compreensível esse discurso. Estão servindo a seus senhores – a quem paga sua campanha e seus privilégios.
Suas estratégias são tão bem montadas que nos fazem duelar entre amigos, colegas de trabalho e na própria família. Perdemos um tempo precioso em debates moralistas, religiosos ou éticos pautados por quem não tem o menor pudor em propor piorar nossa vida para favorecer os banqueiros. Por isso as eleições não podem mudar nossa vida. Em alguns aspectos, nos fazem escolher entre a destruição imediata dos nossos direitos ou a aceitação de uma piora lenta e gradual das condições de vida e de trabalho.
A grande questão é que o Capitalismo não tem mais nada a oferecer para o conjunto da humanidade, a não ser guerras, ódio, morte, desemprego, violência, corrupção e até a diminuição considerável da capacidade intelectual coletiva da população. Sim. O pensamento livre e crítico é atacado. As chances do filho de um operário obter uma excelente formação teórica, filosófica e científica estão cada vez mais reduzidas. E isso desde os níveis mais fundamentais do ensino. É contra esse sistema de morte que precisamos lutar e não contra nós mesmos.
Um filme americano estrelado pela atriz Sandra Bulock já dizia que “se as eleições mudassem a vida das pessoas, elas seriam proibidas”. É hora de romper com as ilusões. É hora de se organizar, de estudar, de discutir. É hora de se preparar e defender o serviço público, gratuito e de qualidade para todos. É hora de defender nossos direitos, o futuro de nossos filhos e netos. É hora de construir uma nova sociedade em que a resolução dos problemas gerais das pessoas seja mais importante que o lucro de um fazendeiro, industrial ou banqueiro. Nenhum capitalista financia candidatos porque quer o melhor pra humanidade. O que ele quer é aumentar seu lucro. E, para isso, se preciso for, vai exigir leis flexíveis para seu negócio: seu “direito” de usar mais veneno nos alimentos, de diminuir salários e direitos dos trabalhadores, de não pagar impostos, de lucrar com nossas doenças, com nossa educação e transporte.
Olhemos o resultado do primeiro turno. Metade dos congressistas eleitos declarou patrimônio superior a R$ 1 milhão. No Senado, dois a cada três senadores são milionários. Os mais ricos venderam ao eleitor a imagem de “professores”, quando na verdade são empresários da educação – como Oriovisto Guimarães (PODE), fundador do grupo Positivo, com patrimônio de mais de R$ 200 milhões (noticias.uol.com.br). Que interesses esses burgueses vão defender? Teu salário, teu emprego, tua aposentadoria, teus direitos e benefícios? Vão lutar por leis que os levem a gastar mais com seus empregados?
Ao votar (ainda somos obrigados a isso) neste segundo turno, optemos, então, em barrar o projeto de ataque mais direto e mais duro aos nossos direitos, enquanto organizamos as forças para transformar a sociedade. Prestemos atenção em quem propõe privatizações imediatas e medidas para atender mais rápido aos banqueiros e milionários. Esse é o primeiro inimigo a ser derrotado.
Estamos em guerra. Paz entre nós. Guerra aos senhores. De que lado da trincheira você está?
Texto originalmente publicado no Jornal do Sinsej de outubro de 2017.