O Saeb e a pressão por números

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é um conjunto de avaliações externas que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) aplica em todo o país. Realizado desde os anos 90, o objetivo do Saeb é medir a qualidade do ensino nas escolas públicas e privadas do Brasil. Os resultados dessas provas fazem parte do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O que deveria ser uma ferramenta de diagnósticos e indicativos de suportes à educação, acabou se transformando em mais um fardo para professores e estudantes. A obsessão por boas notas no Saeb alterou, de maneira negativa, a dinâmica escolar. A sala de aula, que deveria ser um espaço de compartilhamento de conhecimento e formação crítica, foi reduzida a um mero centro de treinamento para o Saeb.

Toda essa pressão por resultados recai especialmente sobre quem está na linha de frente nas escolas. Os docentes são cobrados por diretorias e secretarias de educação para elevar as notas a qualquer custo. Sua avaliação como servidor público também é frequentemente atrelada a esses resultados, criando um ambiente de estresse, ansiedade e assédio. Em vez de educadores, tornam-se técnicos em aprovação no Saeb. Os estudantes, por sua vez, são submetidos a um regime de simulados, exercícios repetitivos e revisões exaustivas do mesmo conteúdo. O Sinsej chegou a receber relatos de pais reclamando que seus filhos sofrem com ataques de ansiedade nos dias que antecedem o exame. A pergunta que ecoa nos corredores das escolas não é “o que aprendemos hoje?”, mas “isso vai cair no Saeb?”. 

É mais uma evidência de que, dentro do atual sistema econômico e político, qualquer imposição de testes e regulamentos recai invariavelmente nas costas dos trabalhadores e da juventude.

Desatualizado e sem transparência
Uma outra crítica ao Saeb é a desatualização das matrizes de avaliação. Especialistas observam que o conteúdo exigido nas provas, especialmente nas disciplinas mais tradicionais, não se alinha à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O Saeb as mantém presas a um modelo de ensino ultrapassado. Isso gera uma grande contradição entre o que é ensinado em sala de aula e o que realmente será cobrado na prova, obrigando os professores a se dedicarem a um “ensino para o teste” e criando um currículo paralelo, cujo único objetivo é marcar a resposta correta no gabarito.

A falta de transparência do Inep no que se refere aos dados também é outro problema. Em 2023, a omissão dos resultados do 2º ano do ensino fundamental, alegando “erros técnicos”, gerou desconfiança. Se a avaliação é tão importante a ponto de ditar o ritmo das escolas, como justificar a não divulgação dos seus dados? 

Por fim, todo esse processo revela uma contradição crônica: o Saeb, que deveria ser um meio para melhorar a educação, tornou-se um obstáculo. A pressão por números substitui a inovação pedagógica, esgota os professores e aliena os estudantes. Se somarmos a isso as constantes reformas do ensino feitas em todos os governos, principalmente aquelas reivindicadas por setores empresariais (como a Confederação Nacional de Indústrias), temos um pacote de destruição da educação pública, seja para privatizá-la, seja para atrelá-la simplesmente às demandas do mercado.

A posição do Sinsej
O Sinsej se coloca contra a realização dessa avaliação, que, em sua forma atual, nada colabora para a educação no país. Ademais, o Saeb é outra ferramenta de perseguição a professores, que veem seu trabalho passar por mais uma avaliação de chefias para além daquelas que já existem. Ainda, o Saeb vem se tornando motivo de estresse e ansiedade em crianças, que nem podem optar pela não realização da avaliação, já que a sua participação passou a valer como nota ordinária em algumas escolas.

Os indicativos para a educação pública já são conhecidos e não são novos: a qualidade de ensino vem naturalmente com um maior investimento no serviço público, na diminuição de alunos por sala de aula, no aumento salarial e no fim completo do sistema de metas e gratificações. E é isso que o sindicato defende: todo o investimento necessário para a educação.

One thought on “O Saeb e a pressão por números

  • 10 de setembro de 2025 em 16:34
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    O Saeb,a quem interessa!
    Este sistema avaliativo totalmente dissociado da realidade do ambiente escolar é uma imposição do sistema para justificar o fracasso da educação
    brasileira,culpando A ou B por essa situação!
    Se quisermos ter avanços significativos na rede pública e particular de ensino,devemos em minha humilde opinião de professor aposentado, partir do seguinte tripé:
    1)Valorização salarial e formação de professores(as);
    2)Entendimento global de conteúdos associando indíviduo ao ambiente;
    3)Forte ênfase na igualdade e inclusão do indíviduo na sociedade humana;
    Esta é uma receita simples para a educação municipal e estadual do nosso país, para obter futuros sucessos!

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