Mais desonerações para os empresários

Por Ulrich Beathalter

Há alguns dias já falamos sobre a desoneração da folha de pagamento e suas consequências. Naquele momento, estávamos falando de um universo pequeno de empresas que tinha sido beneficiado com a medida. Ocorre que no último dia 13 o governo federal anunciou a extensão da bondade para mais 25 setores da economia, incluindo vários setores da indústria, como as fábricas da chamada “linha branca” de eletrodomésticos, que emprega muita gente.

Segundo o Ministro Mantega, somente em 2013 essa desoneração tira cerca de R$ 13 bilhões da Previdência Social. Como a decisão é permanente, em quatro anos nossa Previdência perderá cerca de R$ 60 bilhões – estimativas do Ministro. Uma baita ajuda para os grandes empresários. Mas, e como ficamos nós, trabalhadores?
Há muito se vem falando em déficit previdenciário. Várias reformas já foram feitas para retardar nosso direito à aposentadoria. E agora o governo tira mais dinheiro ainda do INSS? É de se imaginar que teremos muito em breve um novo corte na Previdência. Se já estava difícil se aposentar, pode ficar pior ainda.

Veja como funciona o esquema da desoneração: até agora, de cada folha de pagamento, a empresa contribuía com 20% para a Previdência, além da contribuição do próprio trabalhador. O governo agora baixou uma regra dizendo que, para os setores beneficiados, a contribuição do patrão não é mais de 20% sobre a folha de pagamento dos seus funcionários, mas de apenas 1% a 2% do faturamento da empresa. Do jeito que a contabilidade das empresas pode ser manipulada a qualquer momento, não me surpreenderia se, no final das contas, a Previdência receber ainda menos do que o governo estima.

Estamos correndo um sério risco. A presidente Dilma joga o futuro de milhões de trabalhadores desse país num abismo. É uma verdadeira traição à classe que a elegeu e que depositou nesse governo todas as suas esperanças. Além de não vermos acontecer a diminuição da jornada de trabalho, os servidores serem tratados com descaso, agora os grandes empresários, que sempre lucraram muito graças ao suor de pais e mães de família, são beneficiados com esse “agrado”, que vai garantir o aumento ainda maior dos seus já altíssimos lucros.

O governo justifica essa atitude com a crise econômica internacional. Seria um meio de manter os empregos e a economia aquecida. Mas uma pergunta não quer calar: quem são os culpados por essa crise? São os trabalhadores desse país? Se na época das vacas gordas, os patrões não dividiram seus milhões conosco, porque agora que a crise bate à porta somos nós que devemos pagar? Por que não se tira do lucro dos empresários e banqueiros o necessário para manter o emprego e a dignidade dos pais e mães trabalhadores?

Assusta muito o silêncio que há. As pessoas não se deram conta ainda do tamanho do golpe orquestrado nos gabinetes da Fiesp e levado à mesa do governo. Na ânsia de agradar os empresários e manter sua base aliada, o governo aplica um duro golpe na classe trabalhadora. Essa política a gente já conhecia. Infelizmente, a história era para ter sido alterada, mas continua igual a antes. Mudaram alguns atores, o jeito de fazer política e os que se beneficiam disso são os mesmos.

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