11 de setembro chileno

Por Ulrich Beathalter

Nesta semana completou-se mais um aniversário da morte de Salvador Allende, presidente chileno e, portanto, aniversário de um golpe militar que instaurou uma das mais sangrentas ditaduras já vistas no mundo.

Lembrar a história chilena é importante, ainda mais porque esse episódio tem sido subvalorizado nos principais meios de comunicação. A Rede Globo e a revista Veja jamais contarão a bonita e trágica história liderada por Allende, que por três anos abriu uma perspectiva socialista para o povo chileno e que, apesar de contar com o apoio da maioria absoluta dos trabalhadores e da população, foi vítima de um golpe violento dos grandes empresários, apoiados e financiados pelos partidos de direita, pela CIA (Agência norte-americana de inteligência) e por diversos países influenciados pelos Estados Unidos – inclusive o Brasil.

Salvador Allende era um marxista convicto e declarado. Quando foi eleito democraticamente presidente do Chile, em 1970, apenas Venezuela, Colômbia e o próprio Chile ainda mantinham eleições diretas. Todos os demais países da América do Sul viviam sob ditaduras apoiadas pelos Estados Unidos. Ao assumir o governo, imediatamente Allende começa a pôr em prática seu programa. Implanta a Reforma Agrária, estatiza as minas de cobre e os bancos e gradativamente amplia o controle sobre toda a economia. Isso choca diretamente os interesses e os lucros dos grandes empresários, principalmente as grandes multinacionais norte-americanas, que passam a exigir providências do governo dos Estados Unidos para intervir no Chile.

Foram três anos de grande agitação naquele país. O povo nas ruas apoiava o presidente e estava disposto a ir até as últimas consequências na defesa das conquistas socialistas. Mas Salvador Allende insistia em respeitar todas as normas constitucionais, por isso respeitou o Congresso Nacional, composto por maioria da oposição de direita e impediu o povo de se armar e constituir um exército popular para a defesa dos interesses da nação. Isso fortaleceu o exército regular, cujos oficiais formados nas escolas norte-americanas rapidamente atendem aos apelos da CIA e dos partidos de direita.

Em 11 de setembro de 1973, o general Augusto Pinochet cerca o palácio do governo. Depois de intenso bombardeio, o presidente Salvador Allende morre, retardando a esperança socialista que se iniciava na América do Sul e sob a zona de influência capitalista dos Estados Unidos. Pinochet inicia uma das ditaduras mais longas e sanguinárias que se tem conhecimento, perseguindo, torturando e exterminando todos os militantes socialistas chilenos. Pinochet reinstala o capitalismo no Chile, sepultando as conquistas populares. Durante sua ditadura, foi o país que mais seguiu à risca a cartilha de Washington, a ponto de restar quase nada do serviço público naquele país. Não é à toa que hoje vemos centenas de milhares de estudantes nas ruas do Chile, pedindo escola pública, pois nem a educação foi poupada pela direita daquele país.

Histórias como essa pipocam aos montes mundo afora. Em qualquer lugar em que os capitalistas se sentem ameaçados, não relutam em lançar mão da violência e dos golpes mais baixos para manter seus lucros e seus interesses. Democracia, para os grandes banqueiros e empresários, é a garantia do seu direito de lucrar e explorar o trabalho de milhões de seres humanos, que vendem sua força de trabalho em troca de migalhas.

Mas, por mais que matem e tentem destruir o ideal de uma nova sociedade, mais forte essa ideia se torna. Como dizia o poeta socialista alemão Bertold Brecht: “Eles podem matar algumas flores, mas não impedirão a primavera”. Mundo afora existe uma grande agitação. É o povo pobre e oprimido buscando seu espaço, buscando uma saída. E esta saída, com certeza, não tarda.

 

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