Democracia venezuelana desafia mídia

Por Ulrich Beathalter

O último domingo foi de eleições no Brasil e na Venezuela. Eleições na mesma data, mas com características muito distintas. “Festa da democracia” no Brasil e “ditadura” na Venezuela, como dizem a Globo e a revista Veja.

Será? No Brasil, o voto é obrigatório. Se não formos até a urna, pagamos multa e somos impedidos de participar de concursos públicos, além de outras pequenas sanções. Na Venezuela o voto é livre e mesmo assim quase 90% dos venezuelanos compareceram às urnas.

Durante o processo eleitoral, o povo da Venezuela mostrou o que é participação popular. As ruas foram tomadas por milhões de pessoas, várias vezes. Aqui no Brasil, atividades de rua limitam-se a pequenos desfiles e bandeiraços de cabos eleitorais pagos pelos partidos, sem sintonia alguma com a população. É raro ver ainda alguns militantes nas ruas, empunhando bandeiras e defendendo ideais, por pura convicção, sem esperar recompensa.

Aqui no Brasil, depois de votar, vamos para casa esperar as próximas eleições. Fomos educados a pensar que, no máximo, podemos dar respostas nas urnas. Na Venezuela, a participação popular não termina no processo eleitoral. Por lá, crescem cada vez mais os Conselhos Populares, que na prática detêm poder semelhante aos de uma Prefeitura, pois administram recursos públicos, determinam os investimentos, nomeiam e destituem livremente seus representantes, sem a burocracia estatal. O presidente Chávez, eleito pela primeira vez em 1998, é reeleito pela terceira vez. Além disso, submete seu mandato à avaliação popular, entre uma eleição e outra. Ou seja, a população tem a possibilidade de revogar seu mandato na metade do período, num referendo popular. E a Globo chama isso de Ditadura.

Apesar das constantes sabotagens dos banqueiros e dos empresários, o povo na rua empurra o presidente Chávez a grandes conquistas. Hoje, na Venezuela, não existe mais analfabetismo. Entre 1999 e 2010 houve uma redução de 21% na taxa de pobreza. Pela primeira vez, está sendo oferecido atendimento médico público e gratuito a toda a população pobre. A jornada de trabalho foi reduzida para 40 horas semanais, sem redução de salário. A licença-maternidade de 6 meses foi implementada para todos os trabalhadores, públicos ou privados. O trabalhador, ao se desligar da empresa por qualquer motivo, recebe o equivalente ao seu último salário multiplicado pela quantidade de anos trabalhados. No campo habitacional, o programa iniciado pelo governo Chávez em 2011 está prestes a atingir a marca de 200 mil casas entregues às famílias mais carentes. Isso num país com dificuldades infinitamente maiores que as nossas.

Nem precisa dizer que no Brasil a redução da pobreza caminha a passos de tartaruga, o Sistema Único de Saúde encontra-se cada vez mais sucatado, a taxa de analfabetismo mantém-se elevada, o analfabetismo funcional cresceu, a redução da jornada de trabalho nem foi pautada pelo governo, a licença-maternidade de 6 meses existe apenas para uma parcela dos servidores públicos e o grande programa habitacional chamado Minha Casa Minha Vida nada mais é que um grande negócio para grandes construtoras e empreiteiras que financiam as campanhas dos governantes, mas que, na prática, mantém o sonho da casa própria ainda muito distante para o conjunto da população miserável do país.

Para consolidar e ampliar as conquistas, é preciso que Chávez faça do seu discurso de socialismo uma prática, expropriando de vez os grandes capitalistas e colocando a terra e as fábricas sob controle dos trabalhadores.

Infelizmente, aqui no Brasil, não temos nem um arremedo da grande democracia venezuelana. De fato aqui vivemos uma festa, que dura pouco e deixa uma ressaca enorme. Alguns se divertem e a imensa maioria volta à triste realidade das precárias condições de vida e de trabalho. Nossa democracia é uma grande farsa.

Aprendamos com a Venezuela, mas olhemos para lá sem as lentes da Globo e da Veja.

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