Uma espada, um escudo

Publicamos aqui o desabafo de um servidores municipal de Joinville em greve, que escreve aos companheiros sobre o poder do levante popular.

Quando um governo quebra um contrato podendo cumpri-lo acontece uma injustiça. Quando essa quebra é a favor de seus interesses comete um crime. Mas quando fazendo tudo isso ainda oprime a parte mais frágil… isto é abominável!

Eu vou contar a história de uma empresa.

Esta empresa tinha apenas um funcionário. Ele não era muito valorizado, tinha aumento de 2% ao ano. A empresa tinha salas mal estruturadas e condições difíceis para o funcionário. E, além disso, o patrão  muitas vezes quebrava sua parte no contrato com este funcionário não equiparando seu salário com a inflação.

Então, um dia o empregado pensou em parar suas atividades, levantar de sua cadeira e ir até a sala de seu patrão para falar sobre os problemas, mas teve medo, pois seu patrão era enérgico e deixava claro que com ele não tinha negociação e que se este funcionário se levantasse teria de pagar as horas.

E o patrão sempre falava que a empresa tem despesas e fornecedores. Mas o patrão investia recursos para mostrar o nome dele na placa em frente à empresa, deixando-a cada vez mais bonita e luminosa.

Você conhece uma história parecida com esta?

As coisas tem sido de tal forma que ao longo dos anos somos atacados por golpes de desvalorização… ano após ano, uma espada que nos golpeia.

Golpes que minam nossa condição social. Doses de veneno político. Veneno que nos empobrece, eu e você.

Procedimentos financeiros/políticos que constroem carreiras com intenções estranhas… E, pasmem, com a força financeira que deveria beneficiar a nós, nossos filhos e nossa cidade.

Não é apenas um contrato quebrado, é uma investida covarde, obscura, injusta, na sua vida e na qualidade de vida dos seus filhos para construir projetos de uma minoria poderosa.

Temos tomado estas doses de veneno ano após ano. Estes são os que têm nos governado, governado nossa cidade, governado as investidas financeiras… estamos juntos nisto!

Somos, ano após ano, ameaçados pelas próximas investidas para nos desvalorizar… Um jugo de ameaça financeira!!! Não é assim que você se sente? Pois esta é a sua realidade e a minha também. Estamos realmente juntos!!!

Ouvimos, ano após ano, que teremos que ter mais paciência e menos condições, pois há outras prioridades… Somos a última prioridade, você e eu. Nos tratam com “essa” igualdade, somos igualmente últimos, eu e você!!

Isto é prejuízo, mas não é só prejuízo, é humilhação mesmo, desdenho!! Somos humilhados pela mão opressora que ano após ano nos ameaça covardemente!!!

Sofremos juntos nesta guerra injusta, covarde, com ataques camuflados atrás de mentiras que servem para sustentar projetos políticos, muitas vezes corruptos, que vão minando não só nossas carreiras, mas toda a sociedade. É a espada do governo!!!

Dizem que ele está fazendo a parte dele. Que este é o jogo dele. Eu não acho isso, pois não acho que a parte dele é minar seus ajudantes. Não trabalhamos na máquina que ele usa para realizar seu governo? Ele não é um gestor que deve valorizar seus colaboradores? Ou pelo menos não desvalorizar… Ele deveria estar junto conosco!

Mas, como dizem, ele está fazendo a parte “dele”. Articulando para seus interesses, jogando com as cartas que ele tem um jogo em que oprime milhares, demonstrando um poder que fica escondido atrás de contas que não aparecem… Mas as contas são públicas, são nossas também! Ele deveria nos mostrar.

Ele cuida dele e dos interesses dele e de seus fornecedores. Ele não está conosco. Ele não está com você!!!

Diz que nosso município não tem recurso e não podemos sacrificar toda a sociedade em beneficio de um pequeno grupo de funcionários.  Mas as contas mostram outras coisas… Mostram que ele não está conosco!!!

Voto é esperança, e quem vota espera… Espera que as promessas se cumpram. E a maior promessa era respeito.

E no ano que vem? Sofrerei mais um golpe na minha autoestima, no teu brio? Mais uma investida na minha carreira?

Disto eu tenho medo!

E você, não tem medo disto?

E nós? Quem fará algo por nós?

Como posso me defender disto?

Quem vai impedir que eu seja desvalorizado, humilhado, desmoralizado, pisado… Constantemente?

Será o próximo prefeito? O sindicato?

Sabe aquela empresa?

Tudo seria diferente se ela fosse uma empresa especial.

E se o funcionário é indispensável…

O que acontece se este funcionário tem ESTABILIDADE?

E se ele tiver um sindicato que representa o seu interesse e luta para protegê-lo?

É claro que, se for assim, o funcionário poderá se levantar, sem medo, e ir falar com este patrão. Ele esta protegido, ele tem um escudo.

O seu patrão vai respeitá-lo, e mesmo contra a vontade do patrão, ele será valorizado.

O funcionário precisa deste escudo.

Precisamos olhar bem e ver que este caso é muito parecido com o nosso

Somos insubstituíveis! Temos estabilidade! A nossa empresa realmente precisa de nós! E, hoje, temos um sindicato que se levanta contra esta injustiça.

A única diferença é que não somos um só funcionário…

Para nos levantarmos como se fossemos um precisamos estudar esta diferença, para eliminá-la, e sermos como um. E então levantaremos como um só.

Levantar-se, no nosso caso, não é só um direito, mas é o único direito.

Não é só um ato de justiça, mas é o único ato de justiça diante de tudo isso.

Não é um ato de ataque, mas de defesa e, neste caso, é a única defesa.

Não é só um ato heroico, mas é saber que o herói é alguém comum, que sofre, como eu e você.

É também a oportunidade de quebrar este regime político que apontamos como corrupto, e que muitas vezes financia projetos de corrupção que minam a sociedade. É dar e ter esperança numa sociedade melhor. É fazer política verdadeira.

Como nós levantaremos se eu não me levantar?

Como nós levantaremos se você não se levantar?

Não somos um só funcionário, mas uma só categoria!

E eu sei que é difícil se levantar. Também tenho medo do prejuízo e dos descontos das horas e dos dias, dependo do salário…

Esta injustiça traz este prejuízo e medo, mas tenho que escolher do que tenho mais medo…

Pois não há paz sem justiça, e a paz e a justiça, neste caso, virão somente se eu levantar. Essa é a minha defesa, minha única defesa, meu único escudo.

É a única maneira de eu ser livre.

Só assim estou mais próximo da minha libertação deste governo que me oprime.

Você não acredita que se cada um se levantar isso será nossa libertação dessas ameaças, desse medo?

Só há razões verdadeiras para se levantar…

É a única coisa a ser feita diante desta constante injustiça. Pois tenho medo do próximo golpe.

Não me levanto só porque alguém se levanta, mas por ver que é verdade que posso ser livre!!!

Não me levantei primeiro. Outros se levantaram e segui o exemplo, refletindo sobre tudo isso. E também não serei o último… Outros levantarão, mesmo que eu não os veja.  E quando me levantei, vi que não estava só, já havia centenas e milhares. E estamos juntos.

Levanto-me, pois o sindicato, mesmo defendendo meus direitos, não pode fazer nada se eu não levantar. Pois sindicato é um cérebro que tenta comandar um corpo livre, corpo que tem vontade própria. A tua e a minha vontade.

Mas se eu e você nos levantarmos, seremos exemplos e outros se levantarão também e seremos mais fortes! Estaremos então mais próximos da libertação destas ameaças e deste medo. E este será o meu e o teu escudo. O nosso escudo!  Somente um escudo, pois não precisamos de armas de ataque.

Nós podemos nos levantar!

E digo mais, podemos fazer isso juntos!

Nós temos condições! Temos capacidade! Temos este poder!

Somos 12 mil. Um só interesse: justiça. Uma só necessidade: defender-nos. 12 mil  e agora há uma só coisa a fazer: levantar!

Uma só vez! A primeira vez! Um gigante que aprende a levantar é um gigante que pode andar!

Que força há em 12 mil! Que escudo! Muito mais poderoso que uma espada política, injusta, opressiva, vergonhosa!

Como será espetacular este escudo! Seremos um gigante que antes adormecido acordou e levantou o seu escudo, e pode andar.

Então não haverá mais medo! Não haverá mais investidas! Não mais humilhação! Estaremos libertos desta opressão.

Ah, se eu e você enxergarmos que somos um gigante de 12 mil metros! Levantaremos e seremos valorizados, respeitados, e faremos parte de uma importante história. Uma história que nunca mais esqueceremos e contaremos às próximas gerações. História de como é possível lutar, libertar-se dos ataques covardes de políticos injustos. Será não só um alívio, mas uma só exultação.

NÓS PODEMOS FAZER ISTO!!!

E foi por ver isso que me levantei!!!

Ninguém levanta por medo, mas por medo fica sentado. Talvez você não levante agora, mas depois veja que não é tão importante para o governo  quanto é para nós… E quando levantar será bem vindo e, mais uma vez, estaremos juntos.

Levantar-se é levantar o escudo contra a dura espada do governo. A greve não é um movimento ilegítimo e nem deve ser desordeiro, mas em muitas vezes é a única defesa da parte frágil. E em muitas vezes, como nesta, não há o que fazer para se defender senão através deste movimento social. É o poderoso escudo que os poderosos temem. Temem, pois sabem que se o gigante se levantar uma só vez mostra assim que já sabe se levantar e pode andar.

Nosso voto, nosso prejuízo!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

doze + 7 =