Bonito no papel, necessário na prática
Por Josiano Godoi*
No jornal A Notícia da segunda-feira (4/5) o colunista Claudio Loetz comentou o ponto da Pauta de Reivindicações dos servidores de Joinville que pede a implantação de um gatilho salarial. Para Loetz essa cláusula é “inviável e jamais será aceita”. O colunista também escreveu sobre a concessão de vale-alimentação aos aposentados, assunto sobre o qual trataremos em um novo texto.
Mas o que é o gatilho salarial? O que terá de terrível essa coisa para Loetz levantar-se contra ela?
O gatilho salarial, ou escala móvel de salários, é um dispositivo que aumenta automaticamente os salários para evitar perdas monetárias causadas pela inflação. No nosso caso, o que pretendemos é que a Prefeitura reajuste os salários dos servidores mensalmente de acordo com a inflação apurada pelo INPC. Detalhe, o gatilho não opera ganho real de salário.
Instituir um gatilho salarial não é uma brilhante ideia do Sinsej. Em 1986 um gatilho foi aplicado pelo Plano Cruzado para todos os salários do Brasil. Categorias como os bancários, servidores do judiciário de diversos estados têm ou já tiveram gatilhos em suas pautas. Na Rússia, os trabalhadores têm gatilhos de 70 a 80% da inflação, trimestralmente. E, para encerrar, os magistrados do Brasil têm garantido o reajuste automático de seus vencimentos tendo por base o salário dos ministros do Supremo.
De inexequível o gatilho salarial não tem nada
Todavia, Loetz reconhece como justo reivindicar o gatilho salarial. Pelo menos isso. Mas compreende nosso pedido como um sonho, uma quimera, cuja única conexão com a realidade econômica que vivemos é a capacidade de causar uma catástrofe na economia de toda a cidade. O colunista vai buscar na ortodoxa e combalida teoria econômica burguesa a ideia de que o reajuste dos salários “retroalimenta a inflação, numa espiral prejudicial a todos”. Ora, o reajuste dos salários é tão responsável pelo aumento da inflação, como a elevação dos juros é responsável por detê-la. E esse dois processos são tão verdadeiros quanto morrer por ter comido manga e tomado leite…
Se há algo que não preocupará o Sinsej e os trabalhadores por ele representados é essa velha cantilena que repete incessantemente que “não há recursos”, “não podemos”, “estamos no limite”, “ a cidade vai sofrer”… Não foram os trabalhadores que criaram a crise que vivemos. Ela é uma cria do capital e da burguesia. Não permitiremos que a conta seja jogada nas nossas costas com arrocho, corte nos serviços ou demissões.
Por isso, reivindicamos ganho real, sim. Reivindicamos gatilho salarial para preservar nossos salários, considerando apenas nosso interesse de preservar a classe trabalhadora. A classe para quem trabalhamos, a classe que mantém o serviço público e as fábricas desta cidade funcionando.
*Josiano é diretor do Sinsej e professor, das redes municipal e estadual de educação.