A vida de Lia, uma cozinheira que luta

Alegre e espontânea, Eliete Severino Janck, a Lia, 49 anos, é mãe de um filho de 19 anos e casada há 20. Ela é servidora da Prefeitura de Joinville há quase cinco anos, onde trabalha como cozinheira. Atualmente, está no Centro de Educação Infantil Aventura de Criança, perto de onde mora, no Aventureiro.

Lia nasceu em São Francisco do Sul. Ainda pequena, veio para Joinville com suas duas irmãs, morar no Lar Abdon Batista. Seu pai, Germano Campos, trabalhava como caseiro em um sítio do prefeito de São Chico, mas faleceu quando sua mãe, Ana Severino, ainda estava grávida dela.

Sem condições de criar os filhos, Ana entregou as três meninas ao orfanato e deixou o filho, que era deficiente, com a avó em São Francisco. “Com meus 15 anos, fui morar com minha madrinha. No ano seguinte morei com minha mãe, até que ela faleceu”, conta Lia, relembrando os tempos em que teve que morar de favor até ter condições de pagar aluguel, quando passou a morar em repúblicas.

Assim como muitos jovens, Lia também sofreu dificuldades para conciliar os estudos com o trabalho e os afazeres da casa. “Não tinha tempo para estudar, trabalhava o dia todo e chegava à noite sem cabeça”, explica ela, que fez supletivo nos últimos anos do ensino fundamental. Ela conta que só conseguiu terminar o segundo grau depois que já estava trabalhando na Prefeitura de Joinville.

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Apesar de adorar o que faz, Lia e as demais cozinheiras do município se queixam do constante desvio de função. “Eu amo cozinhar, mas nós cozinheiras acabamos fazendo muito mais do que deveríamos”, reclama. “Algumas exigências que fazem, acho que não competem a nós”. Ela se refere aos serviços de limpeza da cozinha e janelas, organização de estoque, recebimento de mercadoria, entre outras atividades.

A situação das cozinheiras da rede municipal representa bem o problema social enfrentado por grande parte das mulheres trabalhadoras. “Sofremos com a dupla jornada”, desabafa Lia. “Além do acúmulo de serviço no local de trabalho, quando chegamos em casa ainda temos que limpar, lavar, passar”. Lia é extremamente organizada e não gosta de ver bagunça. Mesmo quando chega cansada do trabalho, arruma toda a casa.

Durante a entrevista concedida ao Sinsej, mostrou um pouco da sua casa. Seu amor pela cozinha fica evidente nas panelas de barro que tem, guardadas em um espaço especial da casa. Nas horas vagas, ela gosta de ler, ver televisão e fazer palavras cruzadas.

Lia sofre de problemas na coluna, nos joelhos e no braço. Hoje, está readaptada e não pode fazer serviços que envolvam muito esforço físico. “Ali no CEI somos quatro na cozinha. Porém, eu e mais uma estamos readaptadas e a outra estava afastada, sobrando tudo para a Neiva”, explica ela, preocupada com a saúde da colega.

Para Neiva Meneghel, colega de trabalho e diretora do Sinsej, a responsabilidade de uma cozinheira é muito grande, mas nem por isso suas opiniões são levadas em consideração na hora das decisões administrativas. “Nunca somos ouvidas e somos nós quem sabemos do que precisamos para conseguirmos fazer nosso trabalho”, disse.

Recentemente, as cozinheiras fizeram uma grande movimentação depois que souberam que não teriam duas semanas de recesso garantidas em julho. A mobilização e a luta dessas trabalhadoras garantiu que elas conquistassem esse direito.

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Lia entende que, para conquistar mais avanços, é preciso união da categoria. “A reclamação de desvio e acúmulo de função, bem como a luta pela redução de carga horária é unânime entre nós. Precisamos lutar por isso”. Além de tudo, o cargo de cozinheira está extinto hoje no município, o que precisa ser revertido, para barrar a terceirização, garantir direitos do setor e a qualidade do serviço prestado.

 

* Kályta Morgana de Lima é assessora de comunicação do Sinsej.

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