Servidores das UBSFs contaminadas se mobilizam

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Servidores passaram mal após dedetização irregular | Fotos: Kályta Morgana de Lima

Servidores das Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSFs) São Marcos e Jardim Sofia se reuniram nessa terça-feira (21/8), no Sinsej, para tratar das dedetizações irregulares realizadas nas unidades. Um relato do que aconteceu foi feito pelos trabalhadores, e em seguida discutidas as providências para responsabilizar a Prefeitura por sua negligência.

RELATO UBSF SÃO MARCOS

A dedetização na unidade São Marcos iniciou durante o horário de atendimento, às 17h30, no dia 14 de agosto. Servidores e população foram expostos aos produtos químicos, sem nenhum protocolo de segurança. Em seguida, começaram a surgir baratas por toda a parte interna do local, pois o procedimento começou pela parte externa.

Quando iniciada a aplicação do produto na parte interna, os servidores perceberam que o piso passou a ficar escorregadio, que surgiram camadas de pó branco sobre as superfícies e que um forte cheiro começou a se espalhar por todo o ambiente. Só então a chefia autorizou dispensar os pacientes, pois o cheiro se tornou insuportável. Além disso, materiais foram contaminados e tiveram que ser jogados fora.

Até então, apenas os funcionários da empresa contratada usavam máscaras de proteção. Com isso, toda a equipe precisou ir para fora, esperar que a dedetização terminasse para então fechar a unidade, às 19 horas, conforme indicação.

A orientação da empresa, que no dia anterior havia ligado para a unidade informando que realizaria a dedetização, era de que não haveria problemas em abrir para atendimento no dia seguinte à aplicação do veneno, e assim foi feito.

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Na quarta-feira (15/8) o local foi aberto, às 6h30, e para agilizar o atendimento à população, os próprios servidores começaram a ajudar na limpeza das áreas dedetizadas. O cheiro não diminuía e alguns trabalhadores começaram a passar mal, só então foram distribuídas máscaras e luvas para continuar o processo de higienização.

Os sintomas dos contaminados se agravaram, eles apresentavam desde irritação, ardência, dormência na boca, olhos, nariz, garganta, cefaléia (dor de cabeça), tontura, náusea, vômito, exantema (manchas na pele), diarréia, até crise hipertensiva e de asma.

Com isso foi acionado o ambulatório do servidor, que apenas orientou os afetados a procurarem o Pronto Atendimento 24 horas (PA 24h). Entre os funcionários atingidos, estava uma grávida na décima semana de gestação, que foi exposta aos produtos desde a aplicação.

Importante frisar que, durante todo o procedimento, a equipe não recebeu nenhum apoio ou esclarecimento da gestão e da empresa responsável. Nada foi falado sobre os riscos ou prejuízos à saúde dos servidores. Sequer sabiam informar quais produtos haviam sido utilizados.

Foi solicitado à coordenação um posicionamento sobre as atividades da unidade e a resposta foi que deveriam continuar com o atendimento normal. Só com a piora dos sintomas a gestão decidiu chamar a vigilância sanitária para avaliar o caso. Assim, o responsável que foi ao local constatou diversas irregularidades e orientou a fechar a unidade na parte da tarde, para que a empresa terminasse a limpeza e informasse os produtos utilizados.

Todos foram dispensados com a informação de que continuariam com o atendimento normal no dia seguinte.

No dia 16 a situação ainda era a mesma, pó branco sobre os móveis e cheiro forte no local. Novamente a coordenação suspendeu o funcionamento da UBSF e liberou os funcionários que não estavam de atestado médico. À noite, a equipe foi informada que a unidade permaneceria fechada até o dia 20/8, não abrindo também para a Campanha de Vacinação do dia 18/8.

A unidade deveria ficar fechada por 24 horas após a limpeza dos produtos, sem circulação de pessoas no local para evitar contaminações. Essa é a informação que só foi passada depois de 48 horas do ocorrido. Ainda há o pressuposto de que a quantidade de produto utilizado não foi a descrita pelo responsável técnico, pois deveria criar apenas uma névoa pelas superfícies e não poças de líquidos como ocorreu.

Também deveriam ter sido colocados avisos na entrada da unidade antes do procedimento, contendo todas as orientações. O único aviso colocado nos portões foi feito pelos próprios servidores e arrancado pela chefia do local, que se preocupou mais com a repercussão do caso nas redes sociais do que com a saúde dos servidores e usuários.

Além disso, os produtos já chegaram diluídos e preparados para a aplicação, o que não garante que são realmente os descritos pela empresa: Klerat Blocos, Cyperex 250 CE, Formitek gel, Cyperex 2 PS. Uma das preocupações apontada pelos servidores refere-se aos efeitos que essa exposição ao veneno possa desencadear a longo prazo.

UBSF JARDIM SOFIA

Na unidade Jardim Sofia a dedetização ocorreu no início do mês de agosto e também iniciou em horário de atendimento, logo após as 16h30. A empresa ignorou os pedidos dos funcionários para aguardarem o final do expediente. Neste caso, um paciente, que estava no meio de um atendimento, também foi contaminado e passou mal.

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RESPONSABILIDADE DA PREFEITURA

A diretora do Sinsej, Deise Lima, que sempre trabalhou na área da saúde e entende os procedimentos, critica a Prefeitura pela negligência à população e aos servidores:

 “A dedetização deveria ter sido previamente comunicada à equipe, para preparar o ambiente, cobrir móveis, guardar materiais e equipamentos. Esse tipo de procedimento deve ser realizado somente nos finais de semana. Isso garantiria o vazio sanitário de 24 horas, não colocando em risco a saúde dos servidores e comunidade.”

Ela também aponta a irresponsabilidade do ambulatório do servidor, que não prestou o atendimento devido desde o início.

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Luiz Gustavo, advogado do Sinsej, participou da reunião e está cuidando do caso. Ele recomendou aos presentes que guardem todos os exames e receitas médicas daqui para frente, para garantir eventual responsabilização da gestão na justiça. Os servidores continuam mobilizados e orientados a procurar o sindicato, caso mais problemas venham a ocorrer.

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OUTRAS UNIDADES

O Sinsej recebeu a informação de que mais casos como esse ocorreram em outras unidades. A orientação é que estes trabalhadores procurem o sindicato para fazer o relato, assim as medidas cabíveis serão tomadas.

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