Nota de repúdio à declaração do Deputado Estadual Kennedy Nunes (PSD)
A direção do Sinsej repudia a fala descabida, descontextualizada, desrespeitosa e nociva do Deputado Estadual Kennedy Nunes (PSD) em vídeo publicado em suas redes sociais. Demonstrando um grave desconhecimento da realidade a que estão sendo submetidos os educadores públicos de Santa Catarina, o deputado insinua levianamente que estes servidores “estão em casa sem perder nada” e que não “querem voltar a trabalhar, ainda mais podendo trabalhar em casa e fazer uma boquinha sem precisar trabalhar”. Cobra o retorno das aulas, principalmente nos Centros de Educação Infantil insinuando que servidores da educação estariam mantendo creches clandestinas em casa, concorrendo com as creches particulares que estão impedidas de funcionar, assim como as públicas, em função da pandemia. E encerra o vídeo fazendo uma declaração desconecta com os avanços a que os profissionais da educação chegaram sobre protocolos de segurança e prevenção à Covid-19.
Em primeiro lugar é preciso esclarecer ao deputado que não é nada fácil lidar com as incertezas a que esta pandemia está submetendo a todos. O desconhecido, o medo da doença, o temor da morte e de perder a quem se ama geram graves problemas de saúde. Eis aqui a primeira perda a que todos estamos submetidos: perda de nossa saúde mental, de nossa liberdade, do saudável convívio social com amigos, familiares, alunos e colegas de trabalho.
Em segundo lugar os educadores estão sendo submetidos a uma realidade para a qual não foram preparados e nem lhes foram dadas as condições. A pressão dos gestores é uma das dificuldades encontradas pelos professores nessa pandemia. Há que se lidar com a falta de preparo para trabalhar com uma nova tecnologia, totalmente adversa à rotina diária imposta pela sala de aula; com a elaboração do planejamento semanal em novos moldes; com a elaboração de materiais diferentes daqueles que fomos preparados para fazer; sem condições adequadas de trabalhado. Muitos educadores tiveram uma drástica elevação de seu custo de vida, tendo que investir em equipamentos e internet em casa para dar conta das demandas, sob o risco de não receber salário caso não dêem conta delas. Estas cobranças estão sobrecarregando os educadores numa ameaça velada, porém implícita da situação atual. Isso sem contar a constante preocupação com o aprendizado do aluno que vem sendo avaliado sem que o educador tenha o conhecimento sobre qual realidade individual cada aluno está exposto. Portanto, eis aqui a segunda perda, desta vez dupla: financeira e de saúde.
Em terceiro lugar é preciso esclarecer ao deputado que o retorno às aulas, principalmente na educação infantil, irá expor as crianças a uma vivência que exigiria uma maturidade que não condiz com sua idade cronológica. Seria preciso exigir das crianças que não se tocassem ou interagissem, que mantivessem o distanciamento adequado, que fizessem uso de máscaras, além da consciência de higienização constante. Esta vigilância sobrecarregaria ainda mais o educador que deve ter como foco o ensino-aprendizagem. Além disso, iria expor as crianças a uma experiência totalmente antagônica ao objetivo da convivência escolar.
O deputado precisa tomar conhecimento ainda de que pandemia é uma questão de saúde pública e que, portanto, é responsabilidade do Estado criar as condições e os protocolos de prevenção ao contágio e combate ao seu avanço. Assim sendo, o retorno das crianças a aula presencial não pode ser uma decisão dos pais, mas uma determinação do Estado quando ele garantir as condições sanitárias seguras para isso. E mais, é preciso lembrar ao deputado que, mesmo com as escolas fechadas e a intensificação do isolamento social, o sistema de saúde em Joinville está em colapso, sem condições de atender a demanda. Promover a aglomeração de pessoas neste momento seria uma irresponsabilidade com graves consequências para todos.
Por fim, dizer ao Deputado Estadual Kennedy Nunes (PSD) que nossos educadores são valorosos, verdadeiros guerreiros. Sobrevivem à pressão, aos baixos salários, ao assédio moral, ao preconceito e aos ataques de pessoas que, como o senhor, não conhece as mazelas do dia a dia da sala de aula, da falta de condições de trabalho e da defasagem salarial histórica. E, apesar disso tudo, seguem firmes, sabedores da sua importância na construção de uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceitos e livre de declarações levianas como esta. Senhor deputado: nossas vidas valem muito!