O mito da “neutralidade” do sindicato.

O Sinsej recebe, às vezes, algumas perguntas sobre sua posição em determinados assuntos: “Por que o sindicato deveria se envolver em política? Não deveríamos ser neutros e focar em salários e condições de trabalho?”. São questionamentos legítimos, justamente porque reforçam o que significa ser um sindicato classista. E é importante, neste caso, explicar por que a “neutralidade política” é um mito perigoso, especialmente para os servidores públicos.

O sindicato como um barco
Vamos imaginar o Sinsej como um barco navegando em um rio turbulento. A correnteza simboliza as forças políticas e econômicas que moldam nossa sociedade: leis trabalhistas, orçamentos públicos, políticas de gestão, entre outros. Ficar “neutro”, nesse contexto, não significa simplesmente estar parado no meio do rio. Na verdade, ficar “neutro” seria deixar o barco à deriva, à mercê da correnteza e das forças políticas. E esta correnteza raramente nos favorece como trabalhadores. Ela é influenciada por interesses políticos, como a busca pelo lucro em detrimento do bem comum, privatizações, cortes de direitos, reformas e cargos comissionados. 


A “neutralidade” já é uma escolha política (a favor de quem já tem poder)

Se o Sinsej se calasse, por exemplo, diante da Reforma Administrativa de Adriano Silva (Novo), alegando “neutralidade”, quem ganharia? Ganhariam aqueles que apresentaram o projeto. Se não nos posicionarmos de forma contundente contra as políticas locais, nacionais e internacionais que estrangulam a classe trabalhadora, quem se beneficiaria? Sairiam ganhando aqueles que priorizam outras frentes políticas em detrimento do serviço público e dos trabalhadores. O silêncio jamais é neutro; ele faz com que a ordem vigente prevaleça. E esta ordem não foi construída nem mantida até agora para beneficiar a população.

Como disse Trotsky, já em 1921, no 1º Congresso da Internacional Sindical Vermelha:
“A burguesia procura por todos os meios manter sob sua influência os sindicatos operários, propagando a teoria da ‘neutralidade'”. Isso porque um sindicato que se declara “apolítico” é como um soldado que entra em campo de batalha sem saber por que luta – ele é fácil de ser derrotado ou manipulado. Este foi o caso da gestão anterior do sindicato que se apresentou, por diversas ocasiões, como “apartidária”, mesmo sendo uma força interna do Partido dos Trabalhadores. Com essa política de neutralidade, de falsos heroísmos individuais e o abandono da luta política em detrimento da luta judicial, só restou a esta agrupação acumular derrotas (inclusive no judiciário).


Todas as conquistas são…políticas!
Todo ano, lutamos por ganho real no salário, reajustes no vale-alimentação, entre outras demandas. Tudo isso é político. Envolve disputar recursos do orçamento público, pressionar o legislativo e o executivo, mobilizar os trabalhadores, confrontar a visão liberal que vê o servidor como gasto. Exigimos condições de trabalho e investimento no serviço público. Isso também é político. Significa desafiar estruturas de poder que ignoram saúde e educação para a população. Lutamos contra a lógica da privatização e do desmonte, e isso é profundamente político.

 

O sindicato não é uma bolha isolada do mundo
Quando o Sinsej faz uma publicação contra a política imperialista (ou seja, aquela que subjuga econômica, militar e politicamente outras nações) evidencia sua posição em defesa da classe trabalhadora. Taxas sobre o país encarecem itens essenciais, encarecem comida, fazem o vale-alimentação do servidor valer ainda menos e fazem com que seu salário comece a faltar no final do mês. Neutralidade, neste caso, é deixar o trabalhador à sua própria sorte, sozinho diante de seus problemas.

Quando o sindicato se posiciona contra o pagamento deste poço sem fundo chamado “dívida pública”, é porque já foi pago, só em 2025, o montante de R$ 1,313 TRILHÃO apenas em juros e amortizações – dinheiro que poderia ser investido em serviço público para toda a população.


Historicamente, a atual direção do Sinsej nunca se furtou de fazer todas as críticas aos governos que retiraram direitos e rebaixaram as condições de vida e trabalho da população, seja no contexto nacional ou internacional, independente da filiação partidária. Dos 40 dias de greve contra Carlito Merss (PT) à Reforma Administrativa de Adriano Silva (Novo), a atual gestão sempre esteve ao lado dos trabalhadores em suas demandas.

O Sinsej não é um balcão de atendimento ou uma máquina de entrar com processos judiciais e oferecer convênios. O sindicato é uma organização de formação e luta da classe trabalhadora. A função do Sinsej é de formar, mobilizar e organizar. E como será feita esta formação sobre os ataques que sofrem os servidores sem analisar o contexto político que os produz? A política não está distante dos trabalhadores e do serviço público – principalmente daqueles que, como os servidores municipais, trabalham para o Estado, a expressão máxima do poder político organizado.

Como entidade de classe, continuaremos nesta tarefa formativa e de combate, atrelada ao diálogo fraterno com todos os servidores e suas diversidades de pensamento. Continuaremos conectando a luta sindical à criação de uma outra sociedade e à emancipação da classe trabalhadora.

One thought on “O mito da “neutralidade” do sindicato.

  • 16 de julho de 2025 em 18:30
    Permalink

    NÃO EXISTE NEUTRALIDADE!
    Em termos políticos não existe neutralidade.Quando você diz que é neutro em uma tomada de posicão,você diz sim a tudo que está acontecendo na realidade! O lado da perpeção da realidade ao seu redor depende da sua visão de mundo!
    Todo ser humano é um ser social e político!
    O Sinsej tem que ter uma identidade política na defesa e luta por direitos dos servidores políticos!
    A falta de uma consciência crítica construtiva do servidor produz alienação da realidade, prejudicando a luta na defesa e ampliação de direitos sociais!
    Parabéns ao Sinsej por suas posições políticas!

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