A exploração do povo haitiano

Fabiano Furlan e Francine Hellmann

Foto: Divulgação/EBC
“O que nos separa não são fronteiras nacionais, mas a divisão entre quem explora e quem é oprimido”

Dados do Ministério da Justiça apontam que mais de 60 mil haitianos chegaram ao Brasil desde 2010. Destes, pelo menos mil escolheram Joinville como destino.

O terremoto de 2010, que matou mais de 300 mil pessoas e deixou 1,5 milhão desabrigadas, foi o principal motivador de emigração no país. No entanto, as desumanas condições de vida às quais o povo hatiano está submetido vão muito além da fúria da natureza. Desde 2004, tropas dos exércitos de diversos países, sob comando brasileiro e com o financiamento do imperialismo norte-americano, vêm promovendo um verdadeiro massacre no Haiti.

Com a pecha de “missão de paz da ONU”, nos primeiros dois anos de ocupação militar houve cerca de 8 mil assassinatos na capital Porto Príncipe, sendo que um em cada cinco destes homicídios foi de responsabilidade das chamadas “Forças de Segurança”.  É ainda mais assustador que nesse mesmo período, cerca de 32 mil mulheres e crianças foram estupradas. Destes, um em cada quatro foi perpetrado pelas “Forças de Segurança” ou grupos políticos armados.

Em 2013, a ONU registrou que cerca de 1,5 milhões de pessoas estariam passando fome no Haiti, deste total, 82 mil crianças menores de cinco anos. A taxa de desemprego é de 80%.  Ressalta-se que a população do país é de aproximadamente 10 milhões de habitantes.

Imigração

O Brasil concede 100 vistos de “permanência humanitária” por mês em Porto Príncipe, mas o número não é suficiente e nem todos se enquadram nas especificações burocráticas. Assim, em situação de desespero, muitos entram no país de forma ilegal, por meio de uma jornada arriscada e penosa de até 30 dias para cruzar países como Peru e Equador até o Acre.

Ao chegar, eles têm sido explorados nos piores empregos disponíveis no mercado, com salários mais baixos do que para os brasileiros. Na prática, a possibilidade de trabalho legalizado oferecido ao povo haitiano no Brasil é prejudicada pela situação vulnerável em que eles se encontram. A burguesia, que vê o trabalhador como mero meio de obtenção de lucros e que considera direitos trabalhistas como entraves, expõe seu pensamento em comentários como este, publicado no site Clic RBS:

“Sobre a vinda dos haitianos ao Brasil, acho que é uma boa opção aos empresários para suprir as necessidades de emprego no país. Estamos com carência de mão de obra braçal e estes imigrantes estão trabalhando por qualquer preço e com uma vantagem: não estão contaminados com as leis trabalhistas no Brasil. Atualmente grande parte dos empregados somente está preocupada com seus direitos, mas as obrigações acabam ficando no esquecimento”. Marlon Belo, Joinville.

Preconceito

No sistema capitalista, a ideologia dominante é a da classe dominante, já que é ela quem detém todos os aparatos de Estado, incluindo os grandes meios de comunicação. Essa classe, a burguesia, não quer expor que o desemprego e os problemas sociais que o Brasil enfrenta são causados pelo próprio sistema que ela defende. A taxa de desemprego no país aumentou 18,4% em comparação com o mesmo período do ano passado. Esses números sobem acompanhando a crise financeira internacional, que se aprofunda também aqui. No entanto, é mais conveniente explicar a falta de emprego para 8,157 milhões de brasileiros difundindo a mentira de que a culpa é das 60 mil pessoas que pediram abrigo ao nosso país.

Solidariedade de classe

A exploração sofrida por um trabalhador brasileiro é a mesma sofrida por trabalhadores de todo o mundo. O que nos separa não são fronteiras nacionais, mas a divisão entre quem explora e quem é oprimido. Nesse sentido, é tarefa de cada entidade de classe organizar a luta diária pela ampliação de direitos, não só de sua categoria, mas do conjunto do povo trabalhador – incluindo os haitianos. Só assim poderemos ajudar nossa classe a tomar consciência de seu papel histórico e derrubar o capitalismo. O Sinsej reconhece e abraça sua responsabilidade nesse processo.

Texto publicado no Jornal do Sinsej, edição de agosto

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