Para entender a questão palestina
Por Josiano Godoi*
Um amigo postou no Facebook o seguinte:
“Meu avô nasceu na Palestina. Veio para o Brasil em 1929, com dezoito anos. Nesta época o território era controlado pelo Mandato Britânico. Morava em uma cidade chamada Safed, hoje território israelense. De família muçulmana, meu avô contava que seus vizinhos de frente eram judeus. Viviam em perfeita harmonia que até as festas religiosas eram compartilhadas, até a chegada do sionismo, que implantou o ódio e o terror.”
Quem são os palestinos?
Hoje, a Palestina é o território dividido entre Israel e Jordânia. Os palestinos são um povo de origem árabe sunita habitante dessa região, que começa ao leste do Mediterrâneo e vai até o Iraque e a Arábia Saudita. Os palestinos são majoritariamente muçulmanos, todavia, parte significativa de sua população é cristã. Sua língua é um dialeto árabe.
Ao longo da história as fronteiras da Palestina e o controle da região mudaram bastante. O domínio Árabe, Império Otomano e o Mandato Britânico da Liga das Nações foram os principais “administradores” da região até a criação do Estado de Israel, em 1948.
Vale lembrar que a região da Palestina é uma Terra Santa. Berço do Judaísmo e do Cristianismo, a Palestina é cultuada também pelos muçulmanos. Jerusalém possui templos sagrados para estas três religiões. Justamente por isso, judeus, cristãos e muçulmanos viveram em paz por muito tempo dentro da Palestina.
Que é o sionismo?
O sionismo é um movimento surgido no fim do século XIX que defende a autodeterminação do povo judeu e a criação de um Estado judaico na região onde originalmente se localizava o Reino de Israel, ou seja, na região da Palestina. Partindo do pressuposto de reverter a diáspora dos judeus e de que a Palestina foi ocupada por estranhos, o sionismo pregou o retorno dos judeus à Palestina e sua recolonização.
O movimento sionista desencadeou uma corrente migratória para a Palestina. A criação de cidades e agrupamentos aumentou a população judaica. Por conta da ação de correntes
sionistas radicais e violentas os conflitos com a população local foram potencializados e um convívio que até então foi pacífico ganhou os contornos extremistas e racistas que se veem no conflito atual.
Paralelamente ao movimento sionista em direção à Palestina, surgiu também a idéia de autodeterminação do povo Palestino e a consequente criação de um Estado Palestino. Entretanto, apenas a criação de um Estado judeu se concretizou após a Segunda Guerra Mundial, quando a correlação de forças no mundo viu essa necessidade. Quanto ao Estado Palestino, ele é ainda uma hipótese.
Por que o Estado de Israel?
O movimento sionista sozinho não foi capaz de impulsionar a criação do Estado de Israel. Isso só se tornou possível com o franco e intenso apoio dos Estados Unidos e de sua burguesia. Sob a justificativa de garantir um espaço territorial para o povo judeu perseguido pelo nazismo, a ONU, em 1948, decidiu reconhecer Israel como um novo país.
É importante ter em conta que apenas a perseguição de um povo nunca foi pretexto para se criar um novo país. O verdadeiro motivo da criação de Israel foi a necessidade do imperialismo internacional e do grande capital de fincar uma ponta de lancha nas portas do Oriente Médio.
Não esqueçamos que no fim da Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados Unidos não permitia que possíveis áreas de influência fossem desprezadas. Nada melhor do que um novo país criado em nome da justiça, no meio do caminho entre Oriente e o Ocidente – leia-se entre a Europa e Moscou – a serviço do interesse do grande capital internacional e do seu grande líder, os Estados Unidos. Na prática, hoje, o Estado de Israel é o mais fiel escudeiro do Tio Sam.
A diáspora dos Palestinos
Antes mesmo do reconhecimento de Israel pela ONU e da sua criação oficial, teve início um processo de colonização judaica das terras da Palestina. Ao mesmo tempo, os Palestinos foram sendo expulsos pelos sionistas do país onde sempre viveram. Emigraram para outros países refugiaram-se em outros tantos ou foram segregados em dois territórios dentro de Israel: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Assim iniciou o conflito que perdura até hoje.
A criação de Israel foi duramente rejeitada pelos países árabes, que empreenderam guerras contra o novo país. Todavia, o novo país curiosamente conseguiu derrotar sistematicamente outras nações já consolidadas. Novamente o financiamento e o apoio dos Estados Unidos entraram em cena para consolidar seu aliado contra os árabes.
Quem é o Hamas?
Ao mesmo tempo em que confrontaram diretamente os palestinos e suas organizações, Israel e os Estados Unidos sempre incentivaram e financiaram todo e qualquer movimento de oposição dentro da Palestina. Sempre mereceram especial consideração de americanos e israelenses os movimentos extremistas de orientação religiosa que se destacam nos conflitos no mundo árabe.
Esses movimentos extremistas e terroristas, dos quais o Hamas faz parte, nunca conseguiram grandes progressos a favor da questão palestina. Pelo contrário, sempre atraíram terríveis reações a seus atentados.
A Intifada, iniciada em 1988, um legítimo movimento de massas, com paus e pedras, conseguiu ameaçar mais o Estado sionista de Israel do que os homens-bomba do Hamas. O Hamas, surgido justamente para se opor aos próprios palestinos, atrai com sua política e ações extremistas mísseis e obuses de Israel.
A máquina imperialista norte-americana plantou na Palestina um país novo para rivalizar e disputar espaço com os demais países árabes. A criação de Israel deu as condições para que o extremismo jogasse uns contra os outros para melhor dominar a todos.
Este texto não pretende nem pode esgotar a questão. Nosso objetivo foi apenas aguçar a necessidade de se buscar conhecer mais profundamente a questão palestina. Por isso, recomendamos uma breve leitura, que, cremos, seja um bom começo: Guerra e paz na Palestina – sobre o caráter de Israel, do Hamas e da Autoridade Palestina
*Josiano é diretor do Sinsej e professor, das redes municipal e estadual de educação.