É coisa de maluco

Por Tarcísio Tomazoni Júnior*

Este é o primeiro de uma série de três textos que serão publicados semanalmente sobre a saúde do servidor. Hoje, trarei a discussão dos afastamentos psiquiátricos no magistério; semana que vem, do elevado índice de doenças osteomusculares em profissionais da saúde e, na semana seguinte, um texto sobre a falta de fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual por parte da Prefeitura de Joinville.

Não é novidade para ninguém o elevado número de servidores em nossa categoria com afastamentos para tratar de sua saúde por doenças psiquiátricas. É um assunto delicado, cercado de preconceito e tabu. Não é raro ouvir absurdos como “aquele ali não quer trabalhar mesmo” ou “o que falta é uma enxada”. Claro que esse tipo de declaração tem que ser ignorada, mas é importante que nos posicionemos frente a essa epidemia.

As doenças psiquiátricas não são uma exclusividade do serviço público, mas a prevalência delas em alguns casos específicos é digna de uma observação mais atenta. Dentre os professores, encontra-se proporcionalmente a maior quantidade de licenças para tratamento de transtornos mentais. Estão entre eles: depressão, transtorno de ansiedade e transtorno bipolar. Outro dado importante é que nacionalmente a cada quatro afastamentos três são de mulheres. Principalmente mulheres próximas da menopausa ou que recentemente deram à luz. Claro, isso são fatores que aumentam a predisposição a transtornos mentais em virtude de alterações hormonais, mas o que verdadeiramente influencia o alto índice de afastamentos de profissionais do magistério são as condições de trabalho.

Salas de aula cheias, carga horária elevada, baixos salários, assédio moral. Tudo isso se encontra na rotina de um profissional do magistério, seja ele professor, orientador ou supervisor.

Não bastasse a superlotação já existente nas salas de aula hoje, a Secretaria de Educação, que tem como capitão o secretário Roque Mattei, iniciou o fechamento de turmas e a aglutinação de ainda mais alunos em sala. Outro disparate é a Prefeitura ainda não cumprir a lei 11.738/08, que garante 33% de hora-atividade. Resultado disso é o professor mais tempo em sala de aula e ainda levando trabalho para casa. Entre os profissionais de nível superior, o magistério tem o pior piso de ingresso de nossa categoria. Além disso, eles ainda sofrem com o assédio moral por parte de diretores escolares (não todos), que acabam muitas vezes sendo “mais realistas que o rei”; tudo baseado na coação e na desinformação.

Aliado a isso, não existe um programa de medicina do trabalho. Sem contar o fato de a Prefeitura não garantir atendimento médico, que é outro absurdo. A estrutura de medicina do trabalho existente hoje é “pra inglês ver”. O que temos é uma central de regulação de atestados, onde muitas vezes o servidor é tratado com preconceito por “peritos”. Pergunte-se quando foi a última vez que você fez um exame periódico (e olhe que o exame periódico é somente um simples exame de sangue e uma breve consulta em caso de alguma anormalidade no resultado). Imagine a capacidade de nosso ambulatório em acompanhar servidores com transtornos complexos, como a Síndrome de Burnout. É coisa de maluco a forma como a Prefeitura lida com a questão dos afastamentos psiquiátricos. É coisa de maluco, pois os “gestores” não apresentam medidas capazes de prevenir a doença e muito menos medidas para tratar o servidor adoecido.

Por parte da gestão é preciso mais do que palavras, é preciso ações concretas, objetivas.

Por parte do servidor é preciso dizer um sonoro “não” aos ataques e às palavras subjetivas de valorização do servidor, entre tantas outras que conhecemos bem.

Pela preservação da saúde do trabalhador, enfrentemos de pé estes ataques, exigindo diminuição da quantidade de alunos em sala de aula, apresentação do cronograma de implementação da hora-atividade e que de fato tenhamos um programa de medicina do trabalho sério em nossa categoria.

*Tarcísio é vice-presidente do Sinsej, lotado no Hospital Municipal São José

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