A luta é por nossos direitos

Por Ulrich Beathalter*

Passado o êxtase da votação da admissibilidade do impeachment contra a Presidente da República na Câmara dos Deputados – e tudo indica que o processo caminha para um lógico afastamento de Dilma Rousseff – nos chocamos novamente com a realidade. A crise orgânica do sistema capitalista permanece e se acentua, gerando cada vez mais choques entre os interesses dos trabalhadores e os dos grandes banqueiros e empresários.

Em épocas como essa, só há dois caminhos: ou se diminui o lucro dos “de cima”, ou se retira parte dos benefícios dos “de baixo”. Como a burguesia se nega a reduzir seus lucros, ela utiliza todo o aparelho do Estado – Congresso, Judiciário e o próprio Executivo – para congelar salários, demitir e retirar direitos históricos de todos os trabalhadores, enquanto se apossa cada vez mais dos recursos públicos. Além disso, os poderosos utilizam todo o poder da mídia para convencer os trabalhadores de que é momento de fazer sacrifícios e que “todos” precisam colaborar para superar as dificuldades.

Observamos que os grandes capitalistas mantiveram e em muitos casos ampliaram seus lucros no último período. Um bom exemplo é o Bradesco, que anunciou o maior lucro de sua história – em meio a um cenário em que pais e mães de família perdem o emprego ou diminuem sua renda. Os governos fazem sua parte para manter o status quo de quem fi nancia suas campanhas. Em 2014, o governo federal havia pago pouco mais de R$ 200 bi em juros da dívida pública aos banqueiros e especuladores. Em 2015 essa quantia saltou para mais de R$ 500 bi. Os ricos sugaram mais que o dobro do dinheiro do país em 2015, se comparado com o ano anterior. E tentam nos convencer que a solução é cortar R$ 30 bi da saúde, da educação e da assistência social.

O empresariado percebe o momento e decide desmantelar os direitos e a capacidade de luta dos trabalhadores. O representante da FIESP declara que um trabalhador pode “comer um lanche com uma mão e operar a máquina com a outra”, numa alusão clara de que é preciso acabar com os direitos mais elementares. Ao todo, tramitam no Congresso Nacional mais de 50 projetos que retiram direitos de todos os trabalhadores. Projetos como o PL 257, que renegocia dívidas de estados e municípios, com a contrapartida de congelar salários dos servidores, aumentar o desconto da Previdência de 11% para 14% e retirar direitos como a licença-prêmio. Ou como o PLC 30/2015, que autoriza terceirizar qualquer trabalhador em qualquer setor público ou privado. Há ainda projetos que entregam os serviços públicos para OSs, que proíbem greve de servidores públicos, que forçam a venda de todas as empresas públicas, que inibem a participação dos sindicatos nas negociações – deixando cada trabalhador à mercê de seu patrão, que retira conceitos de trabalho escravo, que aumenta a jornada de trabalho ao permitir mais horas extraordinárias… Se aprovados em seu conjunto, voltamos cem anos na história.

É contra isso que precisamos lutar. É para isso que defendemos a unidade nacional de todos os sindicatos, de todos os trabalhadores. Não podemos manchar a honra de nossos antepassados, que derramaram sangue, suor e lágrimas para que tivéssemos os direitos de hoje. Nossa luta pode manter e ampliar os direitos para as futuras gerações. Nossa omissão condenará nossos filhos e netos a situações muito difíceis de vida e de trabalho. Não pagaremos pela crise!

Editorial publicado no Jornal do Sinsej de abril de 2016
* Ulrich é presidente do Sinsej 

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