Prefeito Adriano Silva (Novo) e governador Jorginho Mello (PL) apostam no negacionismo ideológico e põem em risco a vida das crianças e adolescentes

Texto originalmente publicado no portal Chuville

Por Jane Becker.

É inconcebível a inconsequência do prefeito Adriano, do Novo de Joinville, e do governador de SC, Jorginho Mello do PL, de decretarem o fim da obrigatoriedade da vacina contra Covid-19 às crianças e adolescentes para as matrículas nas escolas e CEIs. Mesmo após quase 2.400 óbitos na cidade por Covid-19, o alcaide municipal não se deixa sensibilizar.

Estranhamente, percebemos que a secretária da saúde, Tania Eberhardt, não estava presente para chancelar o decreto que o prefeito Adriano divulgou num vídeo em suas redes sociais. Adriano alegou na contratação de Tânia, as suas aptidões, capacidade e experiência para ser a gestora da saúde. Em várias reuniões e audiências públicas nos bairros em que estive presente e que contou com também com a presença da secretária, Tânia expunha com preocupação que um de seus grandes desafios era a vacinação, porque haviam munícipes que há algum tempo não se vacinavam mais. Ela SEMPRE fez a defesa correta da imunização.

Portanto, a pergunta que não está calando é por que a secretária da saúde não estava presente no vídeo? Seria por divergência com a decisão estapafúrdia de Adriano? Afinal, a especialista da saúde neste governo é Tania Eberhardt. Ela ter acordo com essa medida, joga no lixo a sua história e os discursos que fez nas reuniões que estive presente.

Cabe perguntar se o negacionismo vai valer também para a vacinação da Dengue. Basta lembrar que, em 2023, Joinville foi a cidade campeã nacional de óbitos por dengue. Foi anunciado hoje pelo Ministério da Saúde que Joinville receberá os imunizantes contra a Dengue na próxima semana. A negação vai ter o mesmo vigor? Até quando vamos correr o risco de vida pelo oportunismo político do prefeito Adriano Silva?

Voltando à Covid-19, conforme nota técnica da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), publicada em 22 de janeiro, a vacina contra a Covid-19 tem se mostrado eficaz para quase 90% das crianças e adolescentes. A nota diz ainda que a vacinação reduz em 41% o risco de criança e adolescentes desenvolverem Covid longa. Para bebes com até seis meses, a proteção chega a 61%. Então, cabe perguntar ao prefeito Adriano Silva e governador Jorginho Mello, se eles querem negar a ciência e sob quais argumentos? Seria em razão de um negacionismo ideológico oriundo de teorias conspiratórias, alimento putrefato que envenena mentes perturbadas de cognição medíocre e coração torpe?

Esse filme ganhou audiência e seguidores após a abertura da Caixa de Pandora pela eleição do líder destes néscios, o GENOCIDA Jair Bolsonaro. Como resultado concreto, temos uma queda significativa e baixa adesão à vacinação de Covid-19 e de outras doenças que haviam sido erradicadas no Brasil.

Estaria Adriano, Jorginho e seus seguidores com saudade dos tempos em que morriam milhares de pessoas vítimas de varíola? E da poliomielite, que matava milhões no mundo ou acometia crianças desafortunadas com comprometimento neurológico? Saudades das muletas e dos pulmões de aço? E as epidemias de febre amarela que, citando o padre Vieira, “deixaram as casas cheias de moribundos, as igrejas, de cadáveres e ruas, de tumbas”. Será que as mais de setecentas mil mortes no Brasil e as mais de sete milhões de vítimas por Covid-19 no mundo não vacina a consciência destes irresponsáveis?

Será que Adriano e Jorginho são tão ignorantes que desconhecem a história do Brasil quanto a levantes contra as vacinas como ocorrido no Rio de Janeiro em novembro de 1904? O estopim foi a obrigatoriedade da vacinação contra uma epidemia de varíola. Durante cinco dias a história da saúde pública no Brasil foi marcada pela Revolta da Vacina, que deixou um cortejo de prisões, feridos e mortos. Na época, o Rio de Janeiro sofria com outras doenças, como peste bubônica, tuberculose e febre amarela, e a cidade era conhecida no exterior pelo horrendo apelido de “túmulo de estrangeiros”.

Em 1904, cerca de 3.500 pessoas morreram vitimadas de varíola e havia 1.800 internações pela enfermidade num único hospital carioca, o Hospital São Sebastião. Nem isso acalmou os ânimos dos negacionistas da época, que se insurgiram contra a vacinação.

Oswaldo Cruz foi o pilar que enfrentou esse negacionismo e sugeriu a lei 1.261/04 que tornou obrigatória a exigência de comprovação de vacinação contra a varíola para a realização de matriculas nas escolas. A medida também previa o pagamento de multas para quem resistisse à vacinação. Infelizmente, qualquer semelhança com os dias de hoje, não pode ser mera coincidência.

A hesitação popular sobre às imunizações tem gerado o retorno de doenças erradicadas, como o sarampo e se isso não for corrigido, outras doenças extintas voltarão à ativa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem denunciado que essa hesitação é fruto de desinformação e de compartilhamento de FAKE NEWS. “Estamos sob a concreta ameaça de reversão do progresso feito no combate às doenças evitáveis por meio de vacinação”. Não tenho dúvida de que a vacina é o melhor instrumento de saúde pública já inventado. “Na ausência dos imunizantes, teríamos tido muito mais mortes por um grande número de doenças e teríamos vivido muito mais pandemias. Infelizmente, a vacina voltou a ser questionada recentemente e precisamos defendê-la. A vacina é segura e funciona. A revolta deixa como importante ensinamento que a vacinação não é só uma questão médica, como também sociológica, cultural, antropológica e histórica. Para uma campanha de imunização ser bem-sucedida, é necessário o envolvimento de profissionais de diferentes áreas”, afirma o historiador Carlos Fidelis da Ponte.

Segue a posição científica da Sociedade Brasileira de Imunização (SBI). “A vacinação contra a covid-19 é uma estratégia comprovadamente eficaz e segura para a prevenção da doença, potencialmente fatal em todas as faixas etárias, inclusive entre CRIANÇAS. A incorporação de vacinas ao Sistema Único de Saúde (SUS) é atribuição do Programa Nacional de Imunizações (PNI), cujas decisões têm como fundamentos sólidas evidências científicas. Todas as questões relacionadas à eficácia, segurança e importância da inclusão da vacina contra a covid-19 no calendário infantil foram amplamente discutidas entre o PNI e os diversos especialistas que fazem parte do Comitê Assessor em Imunizações (CTAI). O parecer favorável à incorporação foi unânime”.

A medida de Adriano se encaixa como INFODEMIA, termo definido pela UNESCO para a pandemia da desinformação. Em agosto de 2022, o prefeito Adriano VETOU um projeto aprovado, na Câmara de Vereadores que proibia a cobrança do passaporte da vacina contra a Covid em Joinville. Como estamos em ano eleitoral, Adriano fará qualquer coisa para alimentar a sua voraz fome de poder para tentar se reeleger, já que pretende polarizar com o candidato bolsonarista raiz, Sgt. Lima do PL. Pouco importa colocar em risco a vida das crianças e adolescentes. Vale tudo para angariar uns votinhos de quem vive no mundo paralelo da bozolândia extremista. Ficará a sociedade joinvilense refém de duas candidaturas patológicas do bolsonarismo com suas medidas de destruição dos serviços públicos e, nesse caso, da saúde pública? Espero que não.

Sobre medidas jurídicas, vejamos o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente no artigo 14: “O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos”. No Parágrafo único. É OBRIGATÓRIA a VACINAÇÃO das CRIANÇAS nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.

O governador Jorginho Mello do PL e o prefeito Adriano do Novo, ignoram com seus decretos inconsequentes, a Lei estadual 14.949/2009 que dispõe sobre a OBRIGATORIEDADE de apresentação de caderneta de vacinação para matrícula anual da rede pública e privada de ensino do estado de Santa Catarina. Diz o Art. 1º “Deve ser apresentada, no ato de matrícula na rede pública estadual ou privada de ensino, a caderneta de vacinação do aluno com até 18 (dezoito) anos de idade, atualizada de acordo com o Calendário de Vacinação da Criança e com o Calendário de Vacinação do Adolescente, em conformidade às disposições estabelecidas pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado da Saúde”.

Se isso não for barrado pelo governo federal e pela Justiça, afinal, a inclusão da vacina está contida no calendário nacional de vacinação das crianças, vai gerar efeito dominó pelo país afora, e estaremos sob ameaça de possível eclosão de novos surtos viróticos.

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